sábado, 15 de outubro de 2011

A caminhada

Local: Alentejo
Temperatura: 40ºC
Missão: Sobreviver
Objectivos: Procuram-se

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Numa estrada no alto Alentejo emanando nuvens de suor, caminhava calmamente com a tshirt ao ombro, não tinha água, nem comida, o telemóvel esse à muito que tinha ficado sem rede. O silencio à muito esperado finalmente tinha chegado, devido à desidratação e ao cansaço o meu cérebro tinha deixado os pensamentos mórbidos para se dedicar exclusivamente à necessidade de manter o meu corpo vivo (?!), a dor física quando existente consegue sobrepôr-se à dor psicológica daí muita gente tentar infligir dor a si própria de forma a aliviar a dor que apesar de fraca está sempre lá...

Companheira fiel de muitos anos, mantém-se sempre connosco de mão dada como um fiel cão de guarda, é muitas vezes a nossa melhor e única amiga; mas neste momento estava sozinho, ainda mais. Estranha sensação de sentir todas as partes do corpo individualmente, a capacidade de isolar individualmente cada parte do corpo quando estamos numa situação de fraqueza é extraordinária. É a preparação da morte, o cérebro com o passar do tempo irá começar a desligar as partes menos importantes fazendo a selecção do que pode ser desligado e do que inevitavelmente tem de continuar ligado, afinal a máxima de todos termos direitos iguais até no nosso corpo é ignorada.

Já tinha bolhas de tanto andar, aquela recta nunca mais acabava e o sol esse já tinha nascido umas duas ou três vezes ou seria os meus olhos que se tinham fechado por momentos!? Não sei. Continuava  a caminhar, passo, passo, passo, respirar, passo, passo, passo, respirar...Cada inalação daquele ar quente e seco, cada inspiração tornava a próxima mais difícil, a dor essa já à muito me tinha deixado, tinha evoluído para algo diferente que nunca tinha sentido suspeitava mesmo que era uma sensação de liberdade e de paz...


Continua...

4 comentários:

  1. Curiosa essa tua frase "estranha sensação de sentir todas as partes do corpo individualmente". A fadiga faz coisas extraordinárias. (:
    Não sei porquê, mas com este texto imagino-te a escrever algo com muitas páginas e uma capa toda bonitinha, se é que me faço entender. :p

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  2. Gostei da descrição que foste fazendo ao longo da escrita, com pormenores e rica expressivamente.
    Lamento não ter respondido ao teu outro comentário mas ando ausentada do blog.
    Bom texto :)

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