quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Crónicas de um Guerreiro

O guerreiro cansado da batalha repousa as suas mãos sobre sua espada. Os seus dedos calejados de tantos anos de mortes, tantas vidas ceifadas, a sua mão repousa suavemente sobre o seu cabo, que traz as marcas do seu prolongado uso, mas as mãos dele já não a sentem ambos são uma, ele e a espada, unos.

Sua força que antes era destinada às batalhas, agora deverá ser usada para empunhar a sua luta pessoal.
O guerreiro observa cuidadosamente a lâmina longa e afiada cujo brilho está ofuscado pelo sangue ainda quente de tantos homens...Os seus olhos não repousam apenas na espada mas também olham além, procuram no horizonte a sua alma a paz que ainda não foi alcançada.
A sua espada percorreu muitos caminhos, foi empunhada com força, valentia e mestria, agora precisa de apenas um caminho: retirar-se do combate.

Com a espada apoiada no canto, o guerreiro curva-se sobre seus joelhos e deixa-se ficar. Nunca antes ele havia notado o tempo que passou, nem as rugas que se formaram na sua face, nem os seus olhos enevoados... Lutou, matou, amou e deixou o tempo encarregar-se do resto.
Seu rosto cansado, seus olhos tristes e sofridos não enxergam mais ao seu redor. O guerreiro está apagado e ainda se mantém vivo devido à única coisa que o manteve vivo tantos anos, o seu instinto animal.
Esqueceu-se que a maior batalha, da qual vem fugindo, não pode ser ganha lá fora, tem que ser ganha cá dentro no nosso interior.

Ele não se permite ouvir a voz do seu coração - endurecido, brutalizado e tantas vezes maltratado. Não percebe que próximo dele, uma mão lhe é estendida há muito tempo, uma mão humilde e sincera, pronta para secar o suor de sua testa e aliviar-lhe as feridas, e ouvir as suas histórias.
Ele não quer vê nada além da sua razão, não ouve nada além dos gritos da batalha.

Seu ano é hoje iniciado, 44 invernos já passou e ele continua a recusar a mão que lhe é estendida...Era tão fácil aceitá-la, mas ele continua a partir para a batalha todos os anos, dia após dia, ele afia o gume da sua espada e parte para a batalha...


E ao contrario de mim ele luta hoje....
Continua

2 comentários:

  1. Já tinha saudades de ler um texto teu assim, com alma e entrega (: Ainda dizes tu que não sabes escrever.
    Mas compreendo muito bem esse guerreiro. É mais fácil entrarmos em batalhas que não são tão nossas assim, porque se perdermos não doerá tanto.

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  2. sim, eu percebo isso, só que esse estereótipo foi-me fomentado por não conhecer nenhuma rapariga que gostasse mesmo de matemática!

    e este texto está mesmo muito intenso... continua!

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