sábado, 29 de outubro de 2011

Learning to fall



Preso num mar de memórias, com centenas de afluentes que o vão enchendo lenta e impiedosamente; ondas enormes morrem nas falésias dos subúrbios da minha mente elas apenas possuem um problema é o ricochete, o embate, o estridente ribombar que fazem falésias, voltando para trás regressando ao mar, desenhando formas e cores no seu caminho de volta à calmaria... Há apenas uma forma das memórias desaparecerem... A evaporação.

Mas o Sol que já brilhou intensamente já lá não está, à muito que abandonou o seu ciclo (nascer, pico, pôr) à anos que apenas vivo na noite, da noite e para a noite, os meus olhos já se habituaram de tal maneira a esta perpétua escuridão que lacrimejam quando algum raio tenta espreitar por entre nuvens pretas cerradas.

Sem sol, sem vontade, sem saída, sem hipótese a água não escoa, e vai-se acumulando fragmentando-se, partindo-se, multiplicando-se...Ocupando espaço e criando novas ligações e caminhos.

Estou sentado na beira da falésia, de pernas cruzadas, ouvindo o sussurro do vento, cheirando o iodo do mar, sentindo salpicos de água a embaterem na minha pele. Esperando mais uma vez pela vontade, aquela que já tantas vezes me deu de me atirar ao mar e ficar lá à deriva novamente, mas ao longe tenho tido alguém sempre a chamar por mim (Obrigado A) e que me tem impedido de cair. Mas depois de tantas quedas, fugas desenfreadas, dias à deriva, estou a começar a ganhar resistências e a chegar à conclusão que o mal não é cair, mas sim o modo como se cai e a forma como nos levantamos a seguir. Assim deito-me na beira do precipício num impasse, esperando a próxima queda.


Se eu podia lutar para sair da beira do precipício, podia. Mas não..Mais vale lutar amanhã

Original



Tento ser original neste mundo que cada vez mais está igual...

Be You Be Original

sábado, 15 de outubro de 2011

A caminhada

Local: Alentejo
Temperatura: 40ºC
Missão: Sobreviver
Objectivos: Procuram-se

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Numa estrada no alto Alentejo emanando nuvens de suor, caminhava calmamente com a tshirt ao ombro, não tinha água, nem comida, o telemóvel esse à muito que tinha ficado sem rede. O silencio à muito esperado finalmente tinha chegado, devido à desidratação e ao cansaço o meu cérebro tinha deixado os pensamentos mórbidos para se dedicar exclusivamente à necessidade de manter o meu corpo vivo (?!), a dor física quando existente consegue sobrepôr-se à dor psicológica daí muita gente tentar infligir dor a si própria de forma a aliviar a dor que apesar de fraca está sempre lá...

Companheira fiel de muitos anos, mantém-se sempre connosco de mão dada como um fiel cão de guarda, é muitas vezes a nossa melhor e única amiga; mas neste momento estava sozinho, ainda mais. Estranha sensação de sentir todas as partes do corpo individualmente, a capacidade de isolar individualmente cada parte do corpo quando estamos numa situação de fraqueza é extraordinária. É a preparação da morte, o cérebro com o passar do tempo irá começar a desligar as partes menos importantes fazendo a selecção do que pode ser desligado e do que inevitavelmente tem de continuar ligado, afinal a máxima de todos termos direitos iguais até no nosso corpo é ignorada.

Já tinha bolhas de tanto andar, aquela recta nunca mais acabava e o sol esse já tinha nascido umas duas ou três vezes ou seria os meus olhos que se tinham fechado por momentos!? Não sei. Continuava  a caminhar, passo, passo, passo, respirar, passo, passo, passo, respirar...Cada inalação daquele ar quente e seco, cada inspiração tornava a próxima mais difícil, a dor essa já à muito me tinha deixado, tinha evoluído para algo diferente que nunca tinha sentido suspeitava mesmo que era uma sensação de liberdade e de paz...


Continua...

domingo, 9 de outubro de 2011

Crónicas de um Guerreiro 3




... Procuro o vale onde vivias as encostas do teu ser, aquele em que outrora os riachos que deslizavam suavemente encostas a baixo crepitando e salpicando água, aquele em que as árvores vibravam de vida quando eram amaciadas pelo suave toque do vento, o vale onde as ervas que eu pisava com estremo cuidado rejubilavam de cor.. Os riachos secaram, as árvores morreram e as ervas essas foram queimadas. Estás tão morta como eu...

Temes o frio, aquele que trago comigo, aquele que gela e corta como facas afiadas, trespassando a tua face imaculada sem qualquer dificuldade, não te censuro por vezes até faço estremecer o meu próprio ser; chego até a temer aquele estranho individuo que aparece reflectido no espelho. É irónica a forma como as pessoas perdem aquele brilho nos olhos que temos em criança, aquela chama que nos mantém quentes e aquilo que com o tempo nos vamos tornando é simplesmente uma imagem construída ao longo dos anos, adaptada ao ambiente, tento manter a minha realidade, a minha essência (ou o que resta dela) mas é complicado.


Assim e como muitos outros que caminham de olhos vendados, perdidos pelos vales dos Eu's de muita gente procuro um carreiro, um rasto, uma indicação .... qualquer coisa que me indique o caminho que me permita daqui sair, deste nevoeiro imenso ... Por vezes encontro os atalhos, e posteriormente encruzilhadas e acabo sempre por voltar ao ponto de partida. E constato que o mundo é mesmo redondo, qualquer mundo...

domingo, 2 de outubro de 2011

E se...


E se pudéssemos testar as coisas que queremos fazer ou dizer com outros corpos primeiro...Não seria interessante? 


sábado, 1 de outubro de 2011

Nobody


Acho que o destino existe mesmo... E ele não é nada bom para mim. Sempre que ganho interesse por alguém, logo no momento seguinte chego à conclusão que nunca iria conseguir ter algo com aquela pessoa, talvez por não ter o que é preciso ou simplesmente por não dar. É tão complicado ser-se deixado de parte, sentimo-nos vazios, ocos, a nossa imagem aparece desfocada no espelho devido aos nossos olhos enevoados que tentam formar lágrimas mas não conseguem, à muito, à muito muito tempo que perdi essa capacidade, lacrimejar é uma impossibilidade imposta ao meu corpo. Então apenas sobra a vontade de, a raiva de não, a inveja dos, o desejo de a, a infelicidade de ser, a compreensão de, o abrir da torneira deixando escoar o que ultimamente tinha conseguido reter, os pequenos pedacinhos de alma que tinha conseguido juntar, as peças de sanidade do puzzle que há muito havia sido desfeito.

Comparo-me a um barco à deriva numa noite de nevoeiro, de tempestade com trovões correndo o céu, criando espectáculos visuais dignos de um filme; apenas procuro um farol para saber onde é a costa, encontro-me nestas águas à tempo demais, as minhas provisões já acabaram, a secura dos meus lábios instalou-se, sulcos fundos que sangram abundantemente já se formaram e como não chove nem consigo derramar lágrimas não tenho água para alimentar os meus lábios sequiosos... Apetece-me saltar fora do barco e ir a nado até à costa mas estou tão cansado...Mais vale lutar amanhã